quarta-feira, 12 de maio de 2010

Liberdade é isso


Pedalar em Fortaleza, e acredito que na maioria das capitais brasileiras, pode significar voltar para casa sem seus pertences, incluída a própria bike, ou nem mesmo voltar.

Felizmente não é assim em todos os lugares do mundo. Estava em Paris e resolvi encarar um passeio de bicicleta pela "Cidade Luz". A prefeitura disponibiliza, para moradores e turistas, bicicletas que podem ser alugadas (grátis na primeira meia hora; 1 euro na segunda) em vários pontos da cidade e devolvidas em outros tantos, de acordo com a sua conveniência. Você só precisa de um cartão de crédito.

Vesti o uniforme de ciclista em férias: bermuda, camiseta, tênis e boné e parti para a estação mais próxima do meu hotel. Caminhei somente uma quadra e me deparei com um monte de vélos (bicicletas) – daí o nome do projeto “Vélib”, ou seja, vélo + liberté - novinhas em folha me esperando. Tudo parecia simples. Após algumas tentativas na máquina, consegui destravar a “minha bike”. Agora é por minha própria conta e risco.

Risco, que risco? Logo entendi que o perigo de ser atropelada era inexistente. Pedalei pelo bairro, percorri as largas avenidas com ciclofaixas. Ônibus e carros guardavam uma distância segura. Basta manter-se próximo ao meio fio e obedecer aos sinais de trânsito. Estava me sentindo a própria ativista ambiental, dando a minha contribuição cidadã para melhorar a atmosfera do planeta.

Resolvi entrar nas ruazinhas secundárias para acessar o cais do Rio Sena. E agora? Como vai caber um carro e uma bicicleta numa via tão estreita e sem ciclofaixas? Nem precisa se preocupar! Em Paris as ciclofaixas são imaginárias, estão na consciência dos motoristas. Eu achava que estava “atrapalhando o trânsito”, como se diz aqui no Brasil, e fiquei um pouco nervosa, mas não teve nenhuma buzina ou xingamento dos motoristas que vinham atrás de mim.

Cruzei por vários ciclistas, caras de terno, meninas de saia, pessoas indo e voltando do trabalho ou passeio. Pensei comigo: liberdade é isso, é poder decidir a melhor forma de ir e vir, sem prejudicar ninguém. Espero um dia poder fazer o mesmo na minha bela Fortaleza. Ao final de uma hora, devolvi a bicicleta em outra estação, dei baixa no meu cartão, e fui visitar um museu ali pertinho.

Artigo de Celma Prata publicado no jornal Sobpressão No. 22, de março/abril de 2010, sob o título "Liberdade é poder decidir"

terça-feira, 4 de maio de 2010

Seis motivos - de um total de 30 - para não sair de Saint-Germain-des-Prés

Sempre que os amigos provocavam "Se viajam para o exterior todos os anos, por que vão sempre para a mesma cidade?", tentávamos explicar e haja blá, blá, blá... Até que desistimos, pois na verdade não tinha nada que convencesse ou justificasse a nossa "aparente" falta de criatividade. A discussão se agravava mais ainda quando eu confessava que, na maioria das vezes, nem saíamos do bairro.

Foi depois de morarmos uma pequena temporada em Paris, entre 1995-1996, no 13o. arrondissement (bairro), que elegemos o charmoso Saint-Germain-des-Prés (6o. arr.) para "habitarmos" durante os nossos pequenos breaks anuais. Tem sido assim nos últimos 15 anos, com raríssimas exceções. Agora mesmo, estamos na "Ville de Lumière".

Todo início de maio, em plena primavera, nos mandamos para cá. Na maioria das vezes, só meu marido e eu. Os filhos, agora adultos, ficam reféns da própria agenda, que às vezes coincide com a nossa. No ano passado, por exemplo, vieram "na comitiva" a recém-norinha e o futuro genrão. Já nos encontramos aqui várias vezes com amigos, como os queridos Zeneida e Rangel, mas cada um com a sua programação diurna, nos esbarramos somente na night. Por duas vezes, nossos primos Márcia e Miguel estiveram também conosco. Desta vez, é a despedida de solteira da minha filha.

Voltando a St-Germain, vamos aos seis primeiros motivos - de um total de trinta - que elenquei para ficarmos no bairro (e não sairmos). Confirmem a seguir por que repetimos Paris nas férias de maio que, diga-se de passagem, é a melhor época para curtir a "cidade luz"! Outro destino, só como segundas férias.

1) Os macarons da Ladurée da Rue Bonaparte (1.50 euro cada) Foto: Divulgação

2) O por do sol do Pont des Arts bebendo vinho (sem mostrar a garrafa, porque não pode!)

3) Alugar uma vélib e passear pelo bairro (grátis na 1a meia hora; 1 euro na 2a)

4) O café Le Départ Saint-Michel para drinques e refeições ligeiras, antes e depois da balada (não fecha!!!). Fica na fronteira com Quartier Latin, outra paixão! Quando estiver farto de foie gras, confit e magret (o que é difícil), peça aqui um filet de vitelo à milanesa com uma massa (13 euros). Uma delícia! E barato para os padrões europeus. Quanto a bebidas alcoólicas, é sempre muito caro: 1 taça de champagne: 9 euros!!! Mas tem jarrinha de tinto Bordeaux de 250 ml por 5.60 euros, mas uma delícia mesmo é o rosé da Provence bem geladinho (cerca de 15 euros a garrafa).

5) A promenade e o marché da Rue de Buci Foto: Divulgação

6) Os crepes da esquina do Boulevard Saint-Michel com o Boulevard St-Germain (também na fronteira com Quartier Latin). Jambon/fromage 3.40 euros; sucrée 1.50 euro.
Créditos fotos: Celma Prata
(Continua nos próximos posts)

segunda-feira, 3 de maio de 2010

"Aqui falamos português"



Estou afastada uns dias em viagem pelo "Velho Mundo" (é o novo!), o que não justifica minha ausência neste espaço, muito pelo contrário, tenho muito para contar. Vou compensar, portanto, neste e nos próximos posts sobre algumas passagens interessantes.

Ao voltarmos para o hotel em Lisboa (Portugal), perguntamos a um passageiro do ônibus 28 se já estávamos perto do shopping Vasco da Gama, nossa parada, ao que ele respondeu: "Não...". Como não? Devia estar bem próximo, comentamos eu e minha filha. O passageiro então continuou: "... estamos próximos do Centro Comercial Vasco da Gama. Aqui falamos português!".

Tudo bem que procuremos preservar as nossas identidades, mas bom senso nunca é demais. Se os nossos nativos tivessem tido, em 1500, a atitude do orgulhoso passageiro, estaríamos todos no Brasil falando tupi-guarani até hoje. Pois, pois...