domingo, 14 de março de 2010

Salve-se quem puder!












Era o dia internacional dedicado à mulher. A jovem empresária Marcela, após cumprir sua devoção na igreja que frequentava, foi confraternizar com a mãe e outras amigas. Na volta para casa, arrancaram-lhe o direito de continuar na missão de ajudar os que precisam, de produzir, de amar, enfim, de viver com dignidade e simplicidade.

"Temos que blindar os carros!" Ouvi de uma amiga, em momento de indignação, enquanto comentávamos sobre o caso que abalou Fortaleza na semana passada. Simples assim? Quanto se chega a tal conclusão, é sinal de que estamos abandonados à própria sorte. Salve-se quem puder e tiver grana para blindar o carro. E quanto ao nosso direito constitucional de ir e vir em segurança? A quem apelar ou responsabilizar?

Fiquei pensando. E que tal se o governo pagasse a blindagem? Essa seria uma medida emergencial, é claro! Blindar o carro sem combater as causas da violência é como tratar da nossa queimadura sem apagar o incêndio que vai queimar outras pessoas. Sabemos que o assunto é complexo e requer campanhas e projetos mais duradouros.

Quem vai, então, apagar o fogo? Sociedade civil e governo precisam arregaçar as mangas de camisas de grife compradas compulsivamente nos shopping centers de Miami. Não dá para continuar assim.

Quantas Marcelas ainda pagarão com a vida diante do descaso de todos nós? Porque sabemos que não é só honrar os impostos e esperar que o governo cumpra a sua parte. Cadê a fiscalização cidadã? Isso dá trabalho, daí porque nem todos se habilitam.

Não tivemos nada o que comemorar neste 8 de março. Em nome de todas as vítimas da violência urbana de ontem e de hoje, vamos lutar para um dia podermos festejar não só as mulheres, mas toda a humanidade. Antes que garotos nos surpreendam na rua com uma arma apontada para a nossa cabeça. A próxima vítima pode ser qualquer um de nós.









3 comentários:

  1. O que é mais triste não é nem a violência, mas as perspectivas futura, o discurso viciado, as respostas que são dadas pelo nosso executivo,legislativo e judiciario. Pois vejamos,o Brasil é um país em que a vítima se torna a culpada.

    Aqui existe uma total inversão de valores, você pode se ver dentro de uma sala de aula, na Universidade, ouvindo do "professor" que um pobre que acha dinheiro que não é seu e devolve é burro. Que ataca o Luciano Huck porque ele se indignou por ser assaltado e teve o seu relógio roubado, e o pior, isso se repete até na imprensa e na fala de alguns dos nossos "intilictuais".

    Nossa Suprema Corte, que tem de bandido a coronel cercado de pistoleiro, resolveu legislar. Uma afronta ao Estado de Direito. Digo isso porque eles estão discutindo, e a tendência é que caia, o Crime Hediondo. Aquele dispositivo que trata de estupradores, sequestradores e traficantes especificamente. Ou seja, eles voltarão a ser tratados como qualquer criminoso comum, com todos os direitos que nossa legislação da.

    E não são poucos os direitos que lhe são dados. Como o meu pai diz, no Brasil todo cidadão tem direito de matar uma pessoa impunemente. Eu brinco dizendo que isso vai além, graças a lei do crime continuado, na verdade você pode fazer uma lista de desafetos, matar todos no mesmo dia, e só responderá por um crime.

    Sendo réu primário, com bom comportamento e todos os outros atenuantes, talvez você passe 1 ano e meio na cadeia, quem sabe!

    As discussões se dividem entre hipócritas, que colocam toda a culpa no aspecto social, e os fascistas, que querem resolver na base do Capitão Nascimento. Nem os primeiros se sustentam, bastando ver que em muitos países tão pobres quanto o nosso(India por ex) a violência nem de perto se assemelha a nossa, nem os fascistas que só conseguem paz em Estados totalitários(a violência é patrocinada pelo próprio Estado, como na China ou em Cuba), pois se violência gratuita resolvesse estariamos no paraíso(ler Rota 66, do Caco Barcellos).

    No fim a grande vítima é a população mais pobre, é que nós só nos indignamos quando nos atinge, digo nós as classes médias e mais abastadas. Todos os dias morre uma "Marcela" nas periferias.

    É evidente que precisamos melhorar as condições de vida da nossa população, mas isso de modo algum interfere na necessidade de reformular o código penal, que é permissivo, e investir em inteligência para que os crimes sejam solucionados e os bandidos presos. Qualquer mudança significativa nas condições de vida duram muitos anos, toda uam geração precisa de um minimo de respostas hoje.

    Acho que o Brasil está melhorando e diminuindo a pobreza, por outro lado não se vê a menor resposta no que diz respeito aos anseios da maior parte da população, que rejeitou até a lei do desarmamento, uma vez que se vê completamente indefesa. Pelo contrário, o legislativo e o judiciário vão na direção oposta, como se estivessem vivendo em outro país.. talvez estjam.. em Miami!

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  2. A situação toda é bem complexa. Poder (ou falta de) público, instituições da sociedade, mídia, todo mundo tem a ver com o que assistimos...e uma parte do problema é exatamente essa: assistimos!
    Se a bandidagem e a (in)consequente violência tomam conta do asfalto não basta reprimir. Quem se preocupa em levar cidadania e oportunidades aos bolsões de miséria (de todos os tipos), se não investimos em gente, em educação, em futuro comum, como poderemos esperar algo melhor?
    Que mundo queremos? Para ter um mínimo é bom perguntar também que mundo eles querem? Se tudo o que passa na tv, tudo que tem no jornal e nos meios de comunicação é função do poder econômico, do consumo (bens, serviços, imagem, sonhos)e nesse campo a democracia é plena, como esperar comportamentos diferentes?
    Que democracia é essa onde uns são mais iguais que a grande maioria dos outros?
    Certamente a resposta não esta só em segurança...

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  3. Certamente, DeltaFrut, democracia que não representa a maioria, é um contrasenso. A cidadania não se constrói com uma visão unilateral, como acontece em nossos meios de comunicação. O debate democrático só pode existir quando a diversidade aparece em todas as esferas, se servindo de todas as ferramentas sociais. É muito complexo!!! Mas nós, que trabalhamos com a informação, temos que fazer a nossa parte, que creio, é o que estamos fazemos aqui: divulgar, denunciar, refletir e chamar à reflexão, brigar e também admitir erros, quando for o caso. Difícil? Dificílimo!!! Mas ninguém disse que era fácil...

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