
O comentário de "deltafrut" ao meu último post "Pela janela do carro" (sobre Brasília): "Uma das coisas que mudou muito foi a ideia de cidade planejada, perfeita, tranquila...", me lembrou um filme que assisti e que me fez refletir sobre o desejo humano de criar uma sociedade perfeita, sem sofrimento, onde todos são felizes.
O tema sempre exerceu grande fascínio sobre a humanidade. Na Grécia antiga, o filósofo Platão imaginou a sociedade ideal na obra “A República” (entre 380 e 370 a.C.); Séculos e séculos depois, a ilha imaginária do inglês Thomas More fez de sua “Utopia” (1516) uma obra atemporal. E, mais recentemente, em 1931, o também inglês Aldous Huxley criou a sua versão de sociedade extremamente organizada nas páginas de “Admirável Mundo Novo”.
O filme “A Vila” (2004), do diretor indiano "norte-americanizado" M. Night Shyamalan (o mesmo de “O Sexto Sentido” e “Sinais”), tem a sua versão de "sociedade perfeita".
Não podendo mais suportar a violência urbana e outros males sociais da modernidade, um grupo de pessoas, liderado por um professor e pesquisador (Sr. Walker), resolve se isolar para sempre em uma pequena comunidade (“vila”), muito simples e primitiva, onde sentimentos como o amor e a solidariedade e valores como pureza e inocência são a mola propulsora de tudo.
Como na ilha imaginária de More, o vilarejo perfeito de Shyamalan elege os mais velhos (“os anciãos”) − e por isso mesmo os mais sábios −, para decidir o que é melhor para todos. Com o objetivo de alcançar o bem comum e a felicidade coletiva, os anciãos não contavam, contudo, com a complexidade da natureza humana, com o instinto e outros sentimentos inerentes ao indivíduo. A segunda geração da pequena comunidade de 60 pessoas, por não terem vivenciado as experiências traumáticas de seus pais, começam a questionar aquele total isolamento, imposto sob o manto da fantasia e do medo, o que considero eticamente questionável. Em outras palavras: apesar de a comunidade propor pureza e inocência, seus habitantes são humanos e imperfeitos. O resultado não poderia ser outro: a violência acaba aparecendo.
A maldade é inerente ao ser humano e o sofrimento faz parte da vida. Isso, no entanto, não significa que tenhamos que ser maus ou sofredores crônicos. Podemos usar da racionalidade. No filme, um dos “anciãos” conclui: “perdi lá fora um familiar e aqui já perdi vários. Aprendi que o sofrimento faz parte da vida”.
No mais, o que move o filme é o amor entre o forte e questionador Lucius (Joaquin Phoenix) e a delicada e corajosa cega Ivy (Bryce Dallas Howard), que mesmo conhecendo o segredo dos anciãos, decide-se por manter as tradições daquela pequena comunidade. Até quando? Ninguém sabe. Igual "sorte" não teve o “selvagem” John, de “Admirável Mundo Novo”, que acaba se enforcando, para se livrar desse mundo "civilizado" que ele tanto almejava conhecer (olha a alegoria da caverna de Platão!).
Para quem não viu o filme, vale a pena passar na locadora. Aproveite o feriado de Páscoa!
O tema sempre exerceu grande fascínio sobre a humanidade. Na Grécia antiga, o filósofo Platão imaginou a sociedade ideal na obra “A República” (entre 380 e 370 a.C.); Séculos e séculos depois, a ilha imaginária do inglês Thomas More fez de sua “Utopia” (1516) uma obra atemporal. E, mais recentemente, em 1931, o também inglês Aldous Huxley criou a sua versão de sociedade extremamente organizada nas páginas de “Admirável Mundo Novo”.
O filme “A Vila” (2004), do diretor indiano "norte-americanizado" M. Night Shyamalan (o mesmo de “O Sexto Sentido” e “Sinais”), tem a sua versão de "sociedade perfeita".
Não podendo mais suportar a violência urbana e outros males sociais da modernidade, um grupo de pessoas, liderado por um professor e pesquisador (Sr. Walker), resolve se isolar para sempre em uma pequena comunidade (“vila”), muito simples e primitiva, onde sentimentos como o amor e a solidariedade e valores como pureza e inocência são a mola propulsora de tudo.
Como na ilha imaginária de More, o vilarejo perfeito de Shyamalan elege os mais velhos (“os anciãos”) − e por isso mesmo os mais sábios −, para decidir o que é melhor para todos. Com o objetivo de alcançar o bem comum e a felicidade coletiva, os anciãos não contavam, contudo, com a complexidade da natureza humana, com o instinto e outros sentimentos inerentes ao indivíduo. A segunda geração da pequena comunidade de 60 pessoas, por não terem vivenciado as experiências traumáticas de seus pais, começam a questionar aquele total isolamento, imposto sob o manto da fantasia e do medo, o que considero eticamente questionável. Em outras palavras: apesar de a comunidade propor pureza e inocência, seus habitantes são humanos e imperfeitos. O resultado não poderia ser outro: a violência acaba aparecendo.
A maldade é inerente ao ser humano e o sofrimento faz parte da vida. Isso, no entanto, não significa que tenhamos que ser maus ou sofredores crônicos. Podemos usar da racionalidade. No filme, um dos “anciãos” conclui: “perdi lá fora um familiar e aqui já perdi vários. Aprendi que o sofrimento faz parte da vida”.
No mais, o que move o filme é o amor entre o forte e questionador Lucius (Joaquin Phoenix) e a delicada e corajosa cega Ivy (Bryce Dallas Howard), que mesmo conhecendo o segredo dos anciãos, decide-se por manter as tradições daquela pequena comunidade. Até quando? Ninguém sabe. Igual "sorte" não teve o “selvagem” John, de “Admirável Mundo Novo”, que acaba se enforcando, para se livrar desse mundo "civilizado" que ele tanto almejava conhecer (olha a alegoria da caverna de Platão!).
Para quem não viu o filme, vale a pena passar na locadora. Aproveite o feriado de Páscoa!
O que torna todas essas utopias semelhantes é sempre o fascismo e o controle de poder exercido de forma autoritária. E óbviamente a falta de humanidade que resulta disso, existem outros exemplo literários, como "1984" de George Orwell.
ResponderExcluirMas esse tipo de utopia não se restringiu a literatura. Influenciados por idéias keynesianas, tivemos ideólogos como Paretto e Karl Marx que deram a base para regimes que levariam a utopias tão desumanas e sanguinárias quanto. Não em teoria, mas na prática.
Daí o surgimento do nazismo, do fascismo e do comunismo, e suas consequências nefastas.
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